segunda-feira, 30 de abril de 2012

10000 singing Beethoven - Ode an die Freude / Ode to Joy / 歓喜に寄せて




É incrível como todos vibramos com esta música. Quando ouço, penso - como o Leonardo disse - que é algo de maior feito na humanidade, em música. Porque sinto como se esta obra sintetizasse o sentimento de toda a humanidade... como se congregasse todos nós num todo. "Todos somos Um". 

E com esta interpretação... acho que Beethoven finalmente está satisfeito. 

domingo, 22 de abril de 2012

Conversas Sobre "Pina"


    • Troca de ideias sobre Pina 3D, de Win Wenders e sobre meu texto postado neste blog, a respeito do filme. Grande parecer, o de Maria Figurelli! Tks. 


      quinta às 22:53 ·  · 
    • Maria Figurelli Angelica! Nao sabia que vc tinha esse blog! Muito bom texto! Eu nao acredito que o cinema em 3D tera, com todos os seus atrativos, o poder de substituir a danca ao vivo e a cores. Mas o cinema tem o poder de encurtar distancias e nos fazer voltar no tempo, e neste caso, as coreografias de Pina foram um prato cheio para um cineasta como Wenders dar o seu toque de direcao num ja perfeito espetaculo, principalmente com o baque da morte dela no segu do dia de filmagens....estarrecedor!!!
      sexta às 10:17 ·  ·  1
    • Angélica Bersch Boff Exatamente, Maria Figurelli! Exatamenet isso. E mais uma coisa: percebi que o 3D é um recurso a mais, para além da realidade. Vimos pelo filme, q é muito diferente assistir a um espetáculo de dança, e um filme 3D. No filme entra tb. arte da vídeo-dança - nova modalidade de arte dos últimos anos - e "a possibilidade de entrarmos no meio do palco". Como naquela cena inicial, em que a câmera sai do publico do teatro, sobe ao palco, entra nas coxias, vai girando em meio aos bailarinos... me diz! Quando a gente pode fazer isso? Nem em ensaios! bjos.!
      sexta às 11:43 · 

sábado, 14 de abril de 2012

Teias, Laços e Possibilidades

Encontro-me hoje numa situação em que recordei e me foram importantes alguns textos escritos no final de 2011. Com esta tarefa, encontrei este - Teias, Laços e Possibilidades - que ora publico. 
Mantém-se atual.

Esta semana conheci um mito que ainda não conhecia. Sempre é tempo! O mito da aranha, tecedora de teias. Teias que são moradas, são laços, limitam, mas também possibilitam a vida. Como naquela noite havíamos dançado por entre fitas crepe, ora emaranhados, ora construindo estruturas com estas fitas, logo entendi tudo o que acontecia dentro de mim: está aí a explicação para minha fobia de aranha: o emaranhamento, a prisão, a claustrofobia. Agora entendo. Fechou-se o ciclo do entendimento de dois medos: a claustrofobia e o pavor de aranhas.
E é exatamente esta a sensação que me passa a teia, a aranha: falta de ar, prisão, confusão de emaranhados que tomam conta e que tiram o controle de meus movimentos, de minha vida. Trauma de infância? Provavelmente, mas não vem ao caso.
O que importa agora é a transformação deste mito e de seus significados em mim. É isto que vou trabalhar. Se teia envolve e domina, teia também é porto seguro, é um espaço a ser transitado e vivido e, finalmente, teia pode ser construção nossa. É por aí que eu vou.

Se estou laçada por fitas adesivas, tenho um espaço de prisão, é certo. Mas é um espaço em que caibo. Se caibo, respiro. Respirando, vivo. Vivendo, transcendo. Então não há mais limites. Neste espaço eu crio. Crio meus movimentos, transformo o espaço. Transformo, inevitavelmente, a estrutura e os fios da teia. Transformo meu corpo e meus movimentos.
Uma teia me prende com toda sua cola – como de fita crepe – mas também me segura: “Do chão você não passa, menina!” É aqui onde vivo. Vivo na TERRA, onde também há AR. Sou terra e ar. É transitando pelos fios sedosos e pegajosos da teia que eu a sinto, exploro e me mostro. A partir dos fios que aí estão eu teço novos caminhos, novos espaços.

Antes eu dançava “engessada”. E o engraçado é que me sentia livre e feliz. Era o ballet, dança regrada, em que o bailarino deve descobrir sua liberdade, suas possibilidades a partir daquela teia restrita. Aí está a grande liberdade, a beleza do ballet: quando descobrimos, dentro daquela teia, o infinito. Passados muitos anos, hoje ando por outras teias. Com danças em que descobri meu corpo cultivado e constituído de outra estrutura. A estrutura de minha teia sanguínea e laços familiares.
Desconstruí ao longo de algum tempo, aquelas tessituras de ballet, e hoje começo a descobrir novos fios que tecerão uma nova teia. Agora tenho fios de ballet e fios de família. Como tatuagens e rugas na testa, marcas de caminhos, tempo e movimento. O material de uma vida, e de novas estruturas em construção.
Nessa desconstrução descobri raízes num corpo diferente, muito diferente, mas também muito próximo do que me seja familiar. Um corpo magro e anguloso, com movimentos peculiares, cuidadosos, ora tensos, e buscando o relaxamento. Movimentos que portam células da família Boff. Essa estrutura que num ballet fora limitante e, com esforço, desconstruída, agora se me afigura insistente, como novas possibilidades.


__________

Tudo acontece a partir do nível TERRA, a partir de uma estrutura limitada. Deste limite, com os pés na terra, caminhamos para novas tessituras. E a teia que nos envolvia agora era a doença do pai. Ao longo de 2 meses de internação hospitalar, o foco era seu corpo. O carinho que aliviava sua dor, seus membros que necessitavam de cuidados, o desejo de saúde para seus órgãos, o tecido de sua pele, suas células, células Boff.
À medida que se anunciava a inevitabilidade de sua partida, eu me aproximava ainda mais daquele corpo que insistia com vida pulsante e cheiro de pai. Em cada partezinha dele reconhecida, nas sardas, cotovelos e joelhos, testa à mostra e nariz, ali identificava minha primeira casa, tecidos pelos quais caminhei, fitas que me envolveram e deixaram cola em mim.
Este corpo se foi. Alguns fios desta teia se desfizeram... E a partir dela, seguimos nossa própria tessitura. Agora os corpos são outros, somos onze, nos movendo por entre laços, criando estruturas novas, a partir daquele e de outros espaços, daquele e de outros movimentos, agregados e renascidos.
A estrutura que agora descubro, das células Boff, é terreno fértil para a construção de uma nova dança. Os limites existem em qualquer dança – espaços, laços, elementos tirados e agregados. Existem no tempo e no espaço. Limites: são eles que ordenam nosso cosmos, possibilitando criações, estruturas, teias de aranha. Gerando vida, assegurando morada. A morada da dança e da criança. Qual dança?
A dança de um corpo magro e anguloso, de certo ponto de vista, movimento desajeitado. A dança deste corpo que convive com outros, se mescla às fitas e fios de outros, constrói e desconstrói, respirando, vivendo, mexendo.

quinta-feira, 22 de março de 2012

"PINA" - 3D



O primeiro filme de uma nova era. Com um filme de dança em três dimensões, a dança não mais será a mesma. Talvez coisas semelhantes já tenham sido pensadas e ditas em outros momentos históricos...
A dança acontece em sua fugacidade e... Difícil acompanhar sua história, difícil captá-la numa caixinha, como reproduzi-la? Primeiro surgiu a fotografia. Ah, para historiadores, um “bem” precioso! Agora sim, podemos saber como se dançava, pelo menos a partir do século XIX. Uma foto é muito mais fiel que pinturas. Será? Será assim fácil?
Depois veio o cinema. Mudo. “Fotografia” com movimento. Acelerado. Lá estavam aqueles montes de “bonequinhos” se mexendo rapidamente... Com bastante atenção e um olhar desconstruído e reconstruído , podemos captar o que poderá ter sido, talvez, um dia, os movimentos de Anna Pavlova, de Nijinsky, e companhia.
Com o tempo, os movimentos passaram a apresentar o seu ritmo natural, e uma música pode ser sincronizada a eles! "Agora sim, temos a “Morte do Cisne” e o “Fauno” dos bailarinos."
Porém a grande revolução surgiu com a fala sincronizada no cinema, na década de 1930, e a explosão dos musicais. Uma efusão de criatividade unindo música, dança e cinema, perpetuados pela tecnologia de ponta, guardados em rolos, numa lata.
Estava aí o movimento em sua plenitude...
Mas, movimento em plenitude tem três dimensões, tem energia, e uma série de sensações inexplicáveis! E mais, conhecer um ídolo ao vivo não se compara a nada. O público não deixou os teatros, as filas seguiram imensas, a concorrência permanece até hoje.
...
Sentada na imensa sala de cinema, com todo o luxo e conforto dos shoppings de hoje, inicia “PINA” – 3D. Já havia assistido ao filme, sem a tecnologia tridimensional. A expectativa para essa nova tecnologia – que eu, particularmente, ainda não havia experimentado – era grande. Mas, prevenida, eu mesma já me alertava: “Talvez não tenha muita diferença! Você já assistiu ao filme... Talvez o “3D” não vá criar um efeito tão forte... Vá com calma.”
Inicia o filme. Já na primeira cena me senti como um “ingênuo” personagem do início do século XX – se pensarmos anacronicamente – deslumbrado com a incrível! Inesperada! Possibilidade daquilo! Meu Deus! E a frase não poderia ser outra, se não aquela já repetida pelos “ingênuos personagens do passado”: “Meu Deus, a dança nunca mais será a mesma! A partir deste momento, essa arte, nas telas, está superando até mesmo sua realidade.” Pensar aquilo foi automático. E em seguida, muito divertido. Eu estava dizendo tudo aquilo mesmo em minha mente?! Então: “Será a dança superada pelo cinema em três dimensões?” Eu ria de mim mesma, mas queria acreditar. Queria e não queria. Quanto espanto.
A primeira cena do filme nos aproxima lentamente de um grande palco italiano à nossa frente. Nós, espectadores, sentamos na platéia. Pensei: “Bem, agora está aí. O teatro transferido para uma sala de cinema. É isto.” E logo acrescentei: “Pois é... talvez no início do século XX tenha-se pensado exatamente assim, e...” Sabemos que não foi assim, que a dança vivida não foi transferida para o cinema ou para o vídeo. Cada um é diferente do outro. E tem mais! A tal energia – que não vemos, não pegamos, mal sentimos vez que outra, não está presente. A energia de um corpo pulsante presente, a energia vital. A coisa não acontece ao vivo. Dizem que tem algo mais... E... como é mesmo esse algo mais?
Porém logo eu descobri que desta vez, apesar da “energia ausente”, tinha algo mais, sim, algo além do teatro reproduzido. Um filme de dança em 3D é diferente de se estar no teatro! Os bailarinos foram cuidadosamente colocados em cena – e não entraram – foram colocados pelo cineasta, como bonequinhos, como num vídeo-dança, é lógico! E não bastando, à medida que se moviam, a câmera nos fazia a gentileza de girar em torno de cada corpo, mais próximo e mais próximo... Saltei da cadeira... Onde estava o cheiro daquele suor? Meu Deus! Da plateia passamos às coxias, de lá para cima... De súbito éramos transformados em anjos.
Pensando bem, com a dança em 3D, agora sim, somos anjos assistindo ao palco E aos bastidores dos mágicos bailarinos!
Dizem que “aquela energia” está ausente. Mas, com certeza, as possibilidades criativas são imensas. Entramos para mais uma nova era.



segunda-feira, 12 de março de 2012

Nova audição para a “Abertura 1812” de Tchaikovsky



Hoje ouvi e assisti mais uma vez à fogosa obra de Tchaikovsky, composta no ano de 1882 em homenagem à vitória do exército russo sobre Napoleão - o grande estrategista de guerra e imperador francês e seus homens - no ano de 1812.
Tive a fortuna de estar, dessa vez, numa situação diferente das outras em que ouvia obra: estava diante de meu marido, homem fascinado por história da guerra, jornalista conhecedor e fascinado por guerras. Uma vez que se propôs a assistir ao concerto comigo - e persistiu até o final – pensei que poderia agradá-lo dizendo: “Esta obra hoje é para tua homenagem!” Quem sabe assim se entusiasmaria mais em ficar até o final...
Meu objetivo foi atingido. Mas a surpresa foi dupla. Por estar nesta situação nova, e sensibilizada com os gostos tão diferentes desta outra pessoa, percebi coisas inesperadas na música de Tchaikovsky. Toda uma simbologia jamais pensada por mim. É curioso e divertido mas, sobretudo, fascinante o potencial que se apresenta para podemos explorar quando nos dispomos a perceber o gosto e o jeito “mais estranho do mundo” – estranho ao nosso mundinho. O gosto e o jeito do estranho que vive ao nosso lado!
Antes disto eu ouvia a Abertura de 1812 sentindo sua grandiosidade, magnitude e força explodindo em meu peito fazendo vibrar todas as minhas células. Após conhecer a história, cheguei a pensar: “Ah, sim, uma música assim tem tudo a ver com a vitória de um exército em uma guerra...” E só. Minha experiência permanecia no plano da sensibilidade idiossincrática, sem grandes interesses voltados para a história – e menos ainda, claro, para a guerra, que não faz meu gênero.
Mas diante da compaixão, do exercício de sentir-com meu marido – que apesar de próximo também é, para mim, um homem de gostos e experiências tão distintos dos meus – me acordei para um aspecto crucial desta música de cunho político e histórico. Em um dos temas da obra, em momento clímax, as trombetas reboam um trecho bem conhecido... Meu marido, entusiasmado, não se cansava de repetir ao meu lado aquela melodia, juntamente com a orquestra. Aquilo entrou em minha memória, dessa vez pela via da história das guerras, mais do que da música, e ficou reboando, ecoando... Já ouvira aquela melodia em outro lugar. Não fora em outras ocasiões, na própria “1812”, mas sim em outro lugar, em outra música! Como assim? Onde seria? Não estamos tratando de uma obra prima?
Sim. Mas num sobressalto de quem está conectado à história daquela guerra entre Rússia e França, surgiu-me “A Marselhesa”, hino nacional francês, bem no cerne desta obra russa, comemorando sua vitória exatamente sobre a França. Num ato explicitamente antropofágico, Tchaikovsky apoderou-se do que poderia haver de mais sagrado para um povo: seu símbolo máximo, seu hino. Devorou-o “sampleando” aquele trecho inicial da “Marselhesa” em meio ao “hino” da vitória dos russos.
A Marselhesa, hino nacional e, mais que isto, hino da conquista democrática na França – e por tabela no mundo ocidental – estava agora sendo devorada pelos russos. Como o trunfo em um ritual antropofágico, a Rússia derrotava a França e absorvia a força do inimigo, alimentando-se de seu símbolo maior. Deste modo, por séculos, os russos seguiriam alimentando-se da força francesa, da cultura ocidental – num ato de canibalismo cultural.
A vitória real dessa história talvez possa ser observada de um outro ponto de vista também. Diferente de carne, não se rouba, não se troca ideias, mas se multiplica. Cultura se multiplica, se transforma, se funde e se confunde. Passados cem ou duzentos anos, é maravilhoso poder entender essa história – as tramas e os sentimentos complexos de uma cultura representados na música feita por um homem.
Possivelmente esta simbologia na “Abertura 1812” – a inserção da “Marselhesa” como um ato antropofágico – pode já ter sido percebida e analisada por outros estudiosos. Mas me encanta e me apraz o fato de eu ter percebido isto finalmente, por mim mesma. Trabalhando minha sensibilidade a serviço das vivências de outra pessoa, conectada com minha experiência intelectual, cheguei a esta conclusão, então nova para mim. 
Nesta mesma noite me acordei também para outro “sampler” que thcaikovsky fez, agora em sua própria obra. Dez anos mais tarde, ao compor para um ballet infantil e fantasioso, comemorativo da festa de natal, ele inseriu no “Quebra-Nozes” um trecho de sua grandiosa obra guerreira – “Abertura 1812”. Trata-se de um trecho mais melodioso, no momento em que garotos de “O Quebra-Nozes” brincam de soldado com seus cavalinhos de pau e suas espadas de madeira. Com música e leveza, a força e pujança de uma nação pode se perpetuar através de gerações.